Ontem estreou o novo programa da SIC, o Peso Pesado Teen, mais um programa baseado no formato internacional Biggest Loser que tem mudado a vida de muitas pessoas. Não sou muito de falar neste tipo de coisas, mas não podia deixar de comentar este assunto. Termos excesso de peso em adultos é mau, mas pior ainda é termos excesso de peso numa altura em que não sabemos quem somos, na adolescência sonhamos com o homem das nossas vidas, sonhamos em ter um namorado que nos trate como umas verdadeiras princesas, sonhamos em vestir as melhores roupas e adoramos ir às compras com as nossas amigas. As adolescentes ditas "normais" fazem tudo isso, no entanto, posso dizer que sei perfeitamente tudo aquilo que os concorrentes estão a passar e pelo qual passaram - comer para esquecer, ser vítima de bullying, ter auto-estima negativa, perder o amor por nós mesmas... Porquê? Por causa do peso. Sei bem o que é isso tudo, sei bem pela sensação horrível que os concorrentes estão a passar.

Cheguei aos 75kg como sabem, com 1.60m de gente estava com excesso de peso e sabia que tinha de mudar. Todos os anos na passagem de ano, pedia o mesmo desejo nas "passas de meia-noite"  -conseguir emagrecer. Queria ser como as miúdas mais giras do colégio, onde os rapazes olhassem para mim e eu pudesse vestir-me como uma rapariga, queria arranjar um namorado e não conseguia porque me achava feia e gorda. Não queria ser vista como a miúda gordinha engraçadinha e faladora da turma, no entanto o desejo todos os anos era o mesmo porque eu não conseguia começar, não conseguia mudar estava demasiado deprimida e mergulhada nos chocolates, na nutella, na comida de plástico e na Coca-Cola. 

Para ajudar a tudo isto, passei por uma depressão silenciosa, digamos assim. Nunca ninguém aqui em casa conseguiu perceber que estava deprimida, comia às escondidas, comprava doces e escondia-os no quarto e esperava que os meus pais fossem dormir para ir atacar algumas coisas na cozinha. Estava a refugiar-me na comida. Aos 17 anos acabei por arranjar um namorado, sabia que ele gostava de mim, mas não me sentia bonita para ele ou tinha qualquer vontade de estar a sós porque não gostava do meu corpo, não me sentia à vontade. Ainda hoje tento perceber se realmente gostei dele ou se fiquei com ele apenas porque foi o único rapaz que tinha olhado para mim. Tive a sorte de consegui travar a depressão com a ajuda de uma grande amiga minha, mas continuava com os maus hábitos alimentares. Nem todas conseguimos sair desse buraco e não faz mal em pedirmos ajuda - psicólogo, nutricionista, pais, amigos... Não somos mais fracas por isso. 

No segundo ano da faculdade decidi pôr um travão a tudo isto, tal como sabem, foi o meu pai que me alertou para o meu peso. Ele também já tinha pesado 90kg e sabia que estava na hora de mudar o meu estilo de vida. Não é nada fácil, nada mesmo. Principalmente quando estamos a enfrentar a fase da adolescência em que nós, raparigas, somos bobas e acreditamos em tudo o que nos dizem. Sonhamos muito, sonhamos em ter um namorado, em sairmos à noite com as amigas, em vestirmos roupas bonitas. Queria usar maquilhagem e não gostava do que via no espelho, queria vestir-me com roupas mais femininas e não gostava de pôr saias porque não gostava das minhas pernas. Tinha vergonha do meu corpo e de mim. O processo de perda de peso é muito mais do que um número na balança, há toda uma viagem e não a devemos rotular como "dieta". Não vamos emagrecer, mas sim mudar quem somos, para melhor. Vamos lutar pela nossa saúde e pelo nosso bem-estar emocional. Vamos aprender a gostar de nós e aprender a saber comer. Comer o que gostamos nas quantidades certas e comer o que nos faz bem, aprendendo a gostar de coisas novas.

É um longo caminho e não basta apenas pensarmos "são só 3 meses e pronto". Não! É uma nova vida que vai nascer e para mudarmos realmente temos de nos mentalizar que nunca mais vamos ter hábitos que nos fazem mal: como comer às escondidas, comer kg e kg de chocolate de uma só vez, beber 3l de Coca-Cola por dia ou jantarmos fast food todos os dias. 

Se vamos tomar a decisão de "perder peso" vamos ter de nos mentalizar que para conseguirmos isso temos de mudar a nossa mentalidade. Se vamos partir do principio que vamos a um nutricionista, vamos seguir à risca o que ele nos vai aconselhar. Dizem que demoramos cerca de 28 dias a assimilar novos hábitos, por isso não pensem a curto prazo. Não deixei de comer chocolates, nem de comer pizzas, aprendi quando é que devo parar e quando é que posso comer. Sei que posso comer, em quantidades controladas e que, acreditem ou não, sabem muito melhor. Não me sinto culpada por comer uma colher de nutella ou por ir comer sushi até cair para o lado porque sei que depois compenso com exercício físico e com uma alimentação que vá equilibrar o disparate. Não vivo em constante dieta, simplesmente aprendi como é que as pessoas "normais" vivem e comem. O nutricionista não vos vai tirar o chocolate, vai reduzir-vos a dose e vão ver que quando chegar o "dia da asneira" ou o "dia em que podem comer um quadrado de chocolate" vão conseguir dividir esse quadrado em 4 e fazer com que dure muito mais tempo do que uma tablete em inteira duraria e vai saber-vos quatro vezes melhor porque sabem que aquele é o dia da semana que o podem comer. Vamos aprender a ouvir o nosso corpo e a saber quando é que preciso "saber parar". Quando estou mais inchada sei que preciso de um chá verde e de mais fibras. Quando sinto que não estou a comer tantos legumes, sei que está na hora de beber um sumo verde pela manhã. Procurem o sítio certo que vos motive, pessoas que tenham o mesmo objectivo do que vocês, um personal trainer que puxe por vocês e que faça com que se sintam bem.

Não se foquem nos números, foquem-se em sorrisos. São os sorrisos que vão fazer a diferença, o resto vem depois porque se estivermos bem e começarmos a gostar de nós, é muito mais fácil de continuar a caminhada.